Posto no Bixiga, em SP, recebeu metanol desviado pelo PCC para adulterar combustível e já foi interditado ao menos 4 vezes

  • 04/09/2025
(Foto: Reprodução)
Investigação cita 19 nomes de postos supostamente ligados ao PCC O Auto Posto Bixiga Ltda., localizado na esquina da Rua Manoel Dutra com a Rua João Passalacqua, no bairro da Bela Vista, região central de São Paulo, foi identificado pela Justiça como destino de carregamentos de metanol desviado pelo grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC) para adulteração de combustíveis. Segundo as investigações da Operação Carbono Oculto, que teve início na quinta-feira (28) e mira a infiltração da facção no setor de combustíveis, o PCC operava um complexo sistema de fraudes e lavagem de dinheiro que envolvia: O setor de combustíveis da cadeia de produção à distribuição, com adulteração em postos; Fundos de investimento operados por integrantes infiltrados na Avenida Faria Lima, coração financeiro de São Paulo. No setor de combustíveis, o esquema criminoso movimentou mais de 10 milhões de litros de metanol, importados de forma regular, mas desviados antes de chegar ao destino. A prática envolvia fraudes documentais, empresas de fachada e lavagem de dinheiro em instituições de pagamento. O metanol não é produzido no Brasil. Segundo a investigação da Polícia Federal e do Ministério Público, a substância era importada pelo terminal marítimo de Paranaguá (PR), com notas fiscais em nome de distribuidoras como a Quantiq. O destino formal da carga eram empresas químicas na cidade de Primavera do Leste (MT), como a MANNABIO, a mais de 1.600 km de distância do posto no Bixiga, em São Paulo, para uso na produção de biodiesel. Posto de combustível no Bixiga, em São Paulo, estava fechado com tapumes na quinta-feira (28), dia em que a Operação Carbono foi deflagrada. Fabio Tito/g1 Na prática, porém, os caminhões desviavam a rota pela Rodovia Régis Bittencourt até a capital paulista. Conversas extraídas de celulares de motoristas flagrados pela Polícia Rodoviária Federal mostram que o combustível era descarregado em postos da Grande São Paulo, incluindo o Auto Posto Bixiga. Segundo documentos judiciais, o desvio fazia parte de uma “complexa estrutura criminosa” montada para fraudar o mercado de combustíveis e gerar lucro com a adulteração. O PCC utilizava notas fiscais frias que simulavam transporte de álcool ou gasolina para mascarar as cargas de metanol. A adulteração chegava ao consumidor final. A Agência Nacional do Petróleo (ANP), órgão do governo federal que fiscaliza a qualidade dos combustíveis de postos no Brasil, considera 0,5% como o percentual máximo permitido de metanol na gasolina. Mas, em alguns postos ligados ao grupo criminoso, a substância representava até 50% da composição do combustível. Interdições O dono do Auto Posto Bixiga é Celso Abugao Silveira, conforme registros disponíveis em bases de dados empresariais recentes. O nome dele não foi citado nos processos nem nas decisões públicas relacionadas ao esquema de adulteração de combustíveis e lavagem de dinheiro vinculado ao PCC. O posto no Bixiga já foi notificado ao menos 30 vezes entre 2022 e 2024 e interditado em quatro oportunidades no mesmo período após fiscalizações da ANP apontarem gasolina e etanol fora das especificações. Três interdições foram em 2022 e uma, em 2024. Em junho de 2022, a ANP apontou alto teor de metanol no etanol vendido no local. O motorista Vinícius Pimenta relata ter sido um dos clientes que sentiram o efeito da fraude. Ao g1, ele contou que, em 2022, seu Renault Clio começou a apresentar falhas logo após abastecer no Auto Posto Bixiga. Segundo ele, o estabelecimento oferecia promoções para pagamentos via PIX. “O carro começou a 'morrer' do nada enquanto eu dirigia, até que um dia não ligou mais. Tive que chamar o guincho, dentro do meu próprio prédio, para levar à oficina”, contou. O mecânico John Lenon Garcia, responsável pelo reparo do veículo, relembrou que o problema estava no combustível adulterado. O motorista Vinícius Pimenta relata que foi um dos clientes que sentiram o efeito da fraude. Arquivo pessoal “Criou corrosão na bomba de combustível, tivemos que trocar sensor de nível, limpar os bicos injetores e as velas. Foi preciso fazer uma geral na injeção eletrônica”, disse. Segundo ele, esse tipo de adulteração é um dos principais fatores de prejuízos para motoristas. “Combustível de má qualidade é dos maiores causadores de dano ao motor. Já vimos casos de clientes que gastaram mais de R$ 7 mil em reparos por causa disso." Segundo a ANP, o Auto Posto Bixiga foi desinterditado por já "ter cessado as causas da interdição aplicada pela ANP" e não consta com interdições pendentes. Os postos autuados pela agência estão sujeitos a multas que podem variar de R$ 5 mil a R$ 5 milhões. A agência afirma ainda que a interdição de postos de combustíveis é uma medida cautelar voltada à proteção do consumidor. Segundo o órgão, a ação busca impedir a venda de produtos fora das especificações ou em quantidades diferentes da registradas na bomba, entre outras irregularidades. “Uma vez comprovada a solução do problema, a ANP realiza a desinterdição, sem prejuízo do processo administrativo e das penalidades cabíveis”, informou. Apesar disso, na quinta-feira (28), dia em que a Operação Carbono foi deflagrada, o posto estava fechado com tapumes. O g1 tenta localizar o dono do posto e as defesas das empresas Quantiq e MANNABIO. Postos citados no esquema Ao menos 19 postos de combustíveis foram citados nominalmente em decisões da Justiça de São Paulo relacionadas à Carbono Oculto, a maior operação da história contra o PCC, que investiga a infiltração da facção criminosa no setor de combustíveis. Segundo a Receita, o PCC usava uma rede de mais de mil postos para lavar dinheiro para o crime organizado, recebendo o dinheiro "sujo" em espécie ou por meio de maquininhas e repassando-o para contas da organização criminosa. A relação dos 19 postos citados nas decisões com os investigados, e os endereços deles (conforme constam na Receita Federal), estão abaixo: Sete postos pertencem a Armando Hussein Ali Mourad. Ele é irmão de Mohamad Hussein Mourad, que, segundo a força-tarefa que conduziu a megaoperação, é ligado ao PCC e liderava o esquema. Mohamad foi "fundamental para a expansão do grupo e para a blindagem patrimonial e lavagem de capitais". São eles: Auto Posto Vini Show, de Senador Canedo (GO) Auto Posto Dipoco, de Catalão (GO) Posto Santo Antonio do Descoberto, de Santo Antônio do Descoberto (GO) Posto Futura JK, de Jataí (GO) Posto Futura Niquelândia, de Niquelândia (GO) Auto Posto Parada 85, de Goiânia Auto Posto da Serra, de Morrinhos (GO) O g1 não conseguiu contato com a defesa de Armando. Dois postos pertencem a Luciane Gonçalves Brene Motta de Souza e Alexandre Motta de Souza, identificados como membros da organização criminosa de Mourad e envolvidos com fraudes em bombas e adulteração de combustível: Posto na cidade de Sumaré (SP) g1 Campinas Auto Posto Conceição, de Campinas (SP) Auto Posto Boulevar XV São Paulo, de Praia Grande (SP) Quatro são apontados como pertencentes a Renan Cepeda Gonçalves, descrito como "pessoa chave na organização criminosa" por estar ligado à Rede Boxter, grupo investigado por lavagem de dinheiro do PCC. Na Receita Federal, o proprietário é Tharek Majide Bannout, alvo da operação e que, segundo a Justiça, tem ligação com o PCC: Auto Posto Yucatan, de Arujá (SP) Auto Posto Azul do Mar, de São Paulo Auto Posto Hawai e Auto Posto Maragogi, ambos de Guarulhos (SP) Posto Azul do Mar, na Mooca Fabio Tito/g1 O Auto Posto Texas, de Catanduva (SP), pertence a Gustavo Nascimento de Oliveira, citado como um dos laranjas do esquema utilizado pelo grupo liderado por Mohamad Hussein Mourad. O g1 não conseguiu contato com a defesa de Oliveira. O Auto Posto Bixiga é citado como destino de metanol usado na adulteração de combustíveis. O Auto Posto S3 Juntas, de São Paulo pertence a Ricardo Romano, "vinculado a atividades de lavagem de dinheiro e [que] possui conexões com o Primeiro Comando da Capital (PCC)”, segundo a operação. O Auto Posto S-10, segundo a investigação, pertence a José Carlos Gonçalves, o Alemão, que tem "ligações fartas com o PCC e é suspeito de financiar o tráfico e a lavagem de dinheiro". Na Receita Federal, ele tem como sócia a ACL Holding, também citada na investigação. O Auto Posto Elite de Piracicaba, da cidade homônima, também é apontado como pertencente a Armando Hussein Mourad. Na Receita, tem como dono Pedro Furtado Gouveia Neto, outro alvo da operação, e que também é proprietário do Auto Posto Moska. Infográfico - Postos citados na Operação Carbono Artes/g1 O que dizem os citados O g1 procurou todos os postos citados, por meio dos contatos disponíveis na Receita Federal, mas não obteve resposta até última atualização desta reportagem. Procuradas, as defesas de Gustavo Nascimento de Oliveira, Renan Cepeda Gonçalves, Armando Hussein Ali Mourad, Ricardo Romano, Antônio Hélio, Carlos Antônio, Luciane Gonçalves Brene Motta de Souza, Alexandre Motta de Souza e Pedro Furtado Gouveia Neto não se manifestaram. O g1 não conseguiu contato com a defesa de José Carlos Gonçalves.

FONTE: https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2025/09/04/posto-no-bixiga-em-sp-recebeu-metanol-desviado-pelo-pcc-para-adulterar-combustivel-e-ja-foi-interditado-ao-menos-4-vezes.ghtml


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