Catto repisa ruínas e superações da saga amorosa nos tons dramáticos e épicos do álbum ‘Caminhos selvagens’
14/05/2025
(Foto: Reprodução) Sonoridade calcada no rock alternativo gera arranjos viscerais que atenuam a fraqueza melódica de safra autoral valorizada por poética confessional. Catto assina as oito músicas que compõem o repertório autoral do álbum ‘Caminhos selvagens’
Ivi Maiga Bugrimenko / Divulgação
♫ OPINIÃO SOBRE DISCO
Título: Caminhos selvagens
Artista: Catto
Cotação: ★ ★ ★
♬ No mundo a partir de amanhã, 15 de maio, Caminhos selvagens é o primeiro álbum inteiramente autoral de Catto. Seguir por esse trilho autoral de forma radical é arriscado porque o fôlego da artista como compositora é menor do que o da intérprete que vem de disco e show arrebatadores, Belezas são coisas acesas por dentro (2023), em que abordou o repertório de Gal Costa (1945 – 2022) com visceral pegada roqueira.
Essa intensidade reverbera na sonoridade de Caminhos selvagens, álbum valorizado justamente pela produção musical orquestrada por Catto por Fabio Pinczowski e Jojô Augusto.
Nas letras das oito músicas, a compositora repisa ruínas e superações de saga afetiva com versos crus e diretos. Desde a primeira música, Eu não aprendi a perdoar, Caminhos selvagens segue por tom dramático e por vezes épico que atenua a irregularidade da safra autoral.
No álbum, a sonoridade de indie rock – urdida com ecos do rock alternativo da década de 1990 – e a poética franca soam mais vigorosas do que as melodias e, nesse sentido, Caminhos selvagens é disco afinado com os tempos atuais da música brasileira.
Ouvir músicas como Eu te amo e A solidão é uma festa é acompanhar a saga de artista que oferece testemunho pessoal em carne viva. Entre guitarras distorcidas, atmosferas etéreas e arranjos orquestrais, Catto dá voz a um cancioneiro entranhado na ambientação noturna de cenas em que amor e sexo são combustíveis para frustrações e desolações.
Nada é explicitamente autobiográfico, mas tudo é pessoal e íntimo, como os versos de Para Yuri todos os meus beijos que transportam Catto para algum lugar do passado amoroso e erótico vivido em Porto Alegre (RS), cidade onde cresceu a artista nascida gaúcha nascida em Lajeado (RS).
Ao seguir pela acidentada via-crúcis amorosa, entre desejos de morte e de dor, Catto finca um momento de transformação – ponto de partida para a superação – entre as cordas orquestradas na música-título Caminhos selvagens, única letra escrita por Catto com um parceiro, César Lacerda.
Na sequência, Madrigal é a faixa em que a artista arde no fogo que liberta através do prazer, conduzindo a ópera-rock para territórios confessionais menos sombrios. Nesse fluxo menos dramático, mas nem por isso menos intenso,1001 noites is over flagra Catto em busca de dias menos dolorosos. “Eu só quero arrasar e ser feliz”, enfatiza a cantora em verso repetido diversas vezes.
No arremate do álbum, a balada Leite derramado encerra – envolta em cordas – a saga percorrida com coragem por Catto neste álbum turbinado pelos toques de músicos como Michelle Abu (bateria), Jojô Augusto (guitarras e baixo) e Fabio Pinczowski (guitarras, piano e violão).
No resumo da ópera-rock, fica a certeza de que Caminhos selvagens é álbum sincero. Sob o prisma comercial, não é o disco que Catto deveria apresentar para suceder um trabalho de intérprete que elevou a cotação da cantora no mercado. Mas seguir por caminhos mercadologicamente erráticos é ação que também mostra a natureza verdadeira da artista. Com Caminhos selvagens, Catto acende belezas dentro da alma sofrida de artista imersa em dores e prazeres.
Capa do álbum ‘Caminhos selvagens’, de Catto
Divulgação